quinta-feira, 11 de abril de 2013

Túnel Rafael Magalhães

  
Certo tipo de homenagem não se faz. Como dar o nome de Rafael Magalhães - filho da atriz Cissa Guimarães - ao túnel acústico da Autoestrada Lagoa-Barra. O rapaz morreu naquele logradouro, atropelado por um veículo em alta velocidade, na madrugada de 20 de julho de 2010. Ele brincava de skate com amigos na pista sentido Gávea, que estava interditada para manutenção. O atropelador invadiu a via a partir de um desvio não permitido, para bater um 'pega', aproveitando-se do tráfego suspenso. Ambos estavam errados. A violência do atropelamento põe o motorista na condição incontestável de vilão. Mas não dá o direito de se estabelecer Rafael como vítima, ao menos da forma como tem sido feito. Ele simplesmente não deveria estar ali. Mais que isso: ele não poderia estar ali.

E se, em vez de ter sido colhido por um condutor irresponsável em flagrante desrespeito às leis de trânsito, Rafael Magalhães tivesse sido atingido por um veículo ou uma máquina da prefeitura, realizando serviços na via? Afinal, era noite alta e a autoestrada estava fechada ao tráfego para manutenção; não funcionando como área de lazer. O garoto continuaria a estar errado, expondo-se do mesmo modo a um acidente. E, seja numa circunstância ou na outra, a brincadeira estaria acontecendo sem a devida intervenção da autoridade municipal, que não deveria ter permitido a invasão da pista; nem para o passeio de skate dos jovens, nem para a disputa de velocidade do carro.

A dor de uma mãe, de quem se arranca um filho com tal brutalidade, não pode fazer com que se perca o sentido das coisas. Cissa Guimarães, na cerimônia de inauguração da placa que passou a identificar o túnel, aludiu a dois valores básicos, que sustentam a nossa vida em sociedade: o amor e o respeito. Amor que, em seu sentido solidário, as pessoas exaltam nessa hora, em apelo para que seja o norte em cada momento da vida. E respeito, coisa de que Rafael infelizmente se esqueceu, ao penetrar num local proibido à sua presença, justo porque perigoso para a sua integridade física. Bradamos pelo respeito a muitos valores, porém nos damos o direito de não respeitar, quando nos é conveniente fazê-lo. Às vezes, esse preço é alto.

Em outra circunstância, tanto Rafael quanto qualquer pessoa querida e valorosa são merecedores de todas as homenagens. Combater a violência no trânsito, praga eminentemente derivada do desrespeito às leis, também é bandeira que se defenda, com absoluto ardor. Entretanto, o batismo do túnel, ontem, consideradas as circunstâncias, para mim é pura demagogia. Uma preocupação com a vida expressa de maneira torta, inadequada. Como faz a mesma prefeitura, idealizadora da homenagem ao rapaz, ao tocar sirenes em dia de temporal para avisar que a encosta vem abaixo e é hora de deixar a favela, em vez de agir no sentido de trabalhar para eliminar o perigo recorrente.