quarta-feira, 24 de julho de 2013

Cidade em festa, cidadãos em glória

  
Uma gente diferente tomou conta da minha cidade. Gente jovem, bonita, animada, de uma alegria gostosamente ruidosa. Gente feliz por estar aqui, nessa terra que já nasceu de bom humor e tem a Felicidade entranhada em seus cantos e no seu povo.

Mas, no meio dessa gente toda, tem uma figura muito especial. Um homem de branco, tão simples quanto nobre em seus gestos. Um homem de palavras suaves mas decididas, sobretudo um sedutor em seu jeito de nos falar à alma a lição do maior dos homens. Um enviado divino.

Que caiu como um anjo, por acidente ou, quem sabe, por desígnio superior, nos braços desse povo que estava ansioso por vê-lo e que se emocionou com a sua chegada. Que veio como um anjo, um mensageiro de novos tempos, que todos desejamos sejam melhores, de progresso, de fartura, de congraçamento e de Paz.

Nem a provação do tempo frio e chuvoso, nem mesmo as provocações de grupelhos organizados, como aquele de 'heterófobos' - creio que podemos cunhar o termo, dado o espírito da coisa - que afrontou os membros da JMJ na escadaria da Igreja de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, têm força para manchar o brilho da Jornada que segue, magnífica, no Rio de Janeiro.

A missão do Papa e dessa estupenda legião de romeiros é de Amor. Um sentimento tão grande que abarca até quem, consciente ou involuntariamente, age contra sua existência. Algo enorme que envolve ainda outros sentimentos, como o perdão. A misericórdia que tem que nos ser possível manifestar para com essas pessoas que - ainda - não entraram em sintonia com a corrente.

Vamos nos deixar levar por ela, sem resistir. Porque esse é o caminho.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Túnel Rafael Magalhães

  
Certo tipo de homenagem não se faz. Como dar o nome de Rafael Magalhães - filho da atriz Cissa Guimarães - ao túnel acústico da Autoestrada Lagoa-Barra. O rapaz morreu naquele logradouro, atropelado por um veículo em alta velocidade, na madrugada de 20 de julho de 2010. Ele brincava de skate com amigos na pista sentido Gávea, que estava interditada para manutenção. O atropelador invadiu a via a partir de um desvio não permitido, para bater um 'pega', aproveitando-se do tráfego suspenso. Ambos estavam errados. A violência do atropelamento põe o motorista na condição incontestável de vilão. Mas não dá o direito de se estabelecer Rafael como vítima, ao menos da forma como tem sido feito. Ele simplesmente não deveria estar ali. Mais que isso: ele não poderia estar ali.

E se, em vez de ter sido colhido por um condutor irresponsável em flagrante desrespeito às leis de trânsito, Rafael Magalhães tivesse sido atingido por um veículo ou uma máquina da prefeitura, realizando serviços na via? Afinal, era noite alta e a autoestrada estava fechada ao tráfego para manutenção; não funcionando como área de lazer. O garoto continuaria a estar errado, expondo-se do mesmo modo a um acidente. E, seja numa circunstância ou na outra, a brincadeira estaria acontecendo sem a devida intervenção da autoridade municipal, que não deveria ter permitido a invasão da pista; nem para o passeio de skate dos jovens, nem para a disputa de velocidade do carro.

A dor de uma mãe, de quem se arranca um filho com tal brutalidade, não pode fazer com que se perca o sentido das coisas. Cissa Guimarães, na cerimônia de inauguração da placa que passou a identificar o túnel, aludiu a dois valores básicos, que sustentam a nossa vida em sociedade: o amor e o respeito. Amor que, em seu sentido solidário, as pessoas exaltam nessa hora, em apelo para que seja o norte em cada momento da vida. E respeito, coisa de que Rafael infelizmente se esqueceu, ao penetrar num local proibido à sua presença, justo porque perigoso para a sua integridade física. Bradamos pelo respeito a muitos valores, porém nos damos o direito de não respeitar, quando nos é conveniente fazê-lo. Às vezes, esse preço é alto.

Em outra circunstância, tanto Rafael quanto qualquer pessoa querida e valorosa são merecedores de todas as homenagens. Combater a violência no trânsito, praga eminentemente derivada do desrespeito às leis, também é bandeira que se defenda, com absoluto ardor. Entretanto, o batismo do túnel, ontem, consideradas as circunstâncias, para mim é pura demagogia. Uma preocupação com a vida expressa de maneira torta, inadequada. Como faz a mesma prefeitura, idealizadora da homenagem ao rapaz, ao tocar sirenes em dia de temporal para avisar que a encosta vem abaixo e é hora de deixar a favela, em vez de agir no sentido de trabalhar para eliminar o perigo recorrente.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Desídia ou incompetência?

  
O Rio de Janeiro possui um teatro tradicional de qualidade renomada e uma casa de espetáculos de características excepcionais (em localização, capacidade e tradição) que, embora pertençam a um dos maiores centros de produção de conhecimento do país, onde tive a honra de estudar, estão abandonados.

O Salão Leopoldo Miguez, localizado na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Rua do Passeio, possui uma das melhores acústicas do país. Inaugurado há quase 100 anos (o prédio é da segunda metade do século XIX, mas o teatro foi inaugurado em 1922), a sala de espetáculos sofre, juntamente com a construção como um todo, com infiltrações recorrentes e a queda de revestimentos de paredes e teto, fruto de uma conservação praticamente inexistente.

O Canecão, inaugurado na década de 1960 em local privilegiado de Botafogo, junto ao acesso a Copacabana, foi retomado pela UFRJ após quatro décadas de um penoso processo judicial, movido pela universidade contra os arrendatários do local. Fechado desde meados de 2010, segue sem uso, em franco processo de autodegradação, igualmente por falta de manutenção.

Para o Leopoldo Miguez, apenas a perspectiva de um orçamento a ser aprovado, visando a obras de recuperação. Para o Canecão, nenhum projeto à vista, apesar do tamanho esforço empreendido em ter o prédio de volta. Imaginava-se que a Federal tivesse noção do que pretendia com a casa, quando enfim a recuperasse... Mas ninguém pensou nisso!

Essas afrontas ao dinheiro do contribuinte seriam falta de vontade ou de capacidade de ação?


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Réveillon de Copacabana: festa de 2013 bate recorde de público e de beleza

  
Segundo alguns, o maior espetáculo da Terra, em cuja definição rivaliza apenas com outra grandiosa festa da cidade: o Carnaval. Como se ambas não tivessem o mesmo espírito de celebração, que norteia a vida de todo carioca.

Esta virada de ano na Avenida Atlântica fez, mais do que nunca, jus à pompa com que é tratada. A queima de fogos - com 16 minutos - foi a mais bonita já feita na praia e o público, o maior de todos os tempos, atingiu 2 milhões e 300 mil pessoas.

Contudo, palavras não bastam para descrever. As fotos e os filmetes feitos por nós a partir do Leme, esse simpático cantinho leste da enseada desenhada por Pereira Passos, dão a dimensão do que foi a festa. Dá para ver, também, o final da tarde de 31 de dezembro, com a praia se aprontando para a celebração; e a manhã ensolarada de 1º de janeiro, um dia bonito anunciando um ano não menos.

Algumas imagens tremidas, sem a desejada nitidez, se desculpam pela emoção do momento. (É prudente baixar o nível do som, que praticamente se resume ao espocar dos fogos, para assistir aos filmes sem sobressaltos.)

Feliz Ano Novo!
































quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Dia sem luz, festa do sol...!

  
A Natureza tem mesmo seus caprichos. Esta quarta-feira início de semana, passadas a Proclamação da República e o Dia da Consciência Negra, amanheceu com a Barra da Tijuca envolta em névoa espessa, capaz de uma obra de arte. Uma aquarela cinza-claro pintada no céu simplesmente apagou todo o relevo que contém a Pedra da Gávea, para espanto de quem descia as avenidas Armando Lombardi e Ministro Ivan Lins, em direção à Zona Sul.

Entretanto, bastava vencer o primeiro túnel - o do Joá - do Elevado das Bandeiras, para se descortinar um sol obstinado, teimando em furar o bloqueio da cerração. E, mais alguns minutos depois, dar com São Conrado vívida, com predomínio de azul entre poucas nuvens. Leblon, Ipanema e Copacabana, de onde escrevo, seguem o esquema, com dia claro.

Altos e baixos do tempo de primavera, a um mês exato de o Verão dar as caras.

   

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Muitos anos de estrada e de prelo


Parabéns ao Jornal do Commercio pelos seus 185 anos! A publicação há mais tempo publicada ininterruptamente em toda a América Latina. Nascida ainda no Rio de Janeiro dos tempos de capital do Império.

Um marco na imprensa brasileira.

   

domingo, 16 de setembro de 2012

Concorrência burra


Que tristeza! Os modais que compõem o transporte de massa da Cidade do Rio de Janeiro se enxergam como concorrentes, e não complementares, como deveria ser. Existisse uma autoridade pública presente, isso não aconteceria.

A expressão dessa disputa é o tom do anúncio da Supervia, operadora ferroviária de passageiros, exposto em mupis (mobiliários urbanos para informação, os painéis de publicidade que existem nas calçadas e pontos de parada) pela cidade, perguntando se você prefere estar sentado no ônibus ou no sofá de casa. A insinuação óbvia é a de que de trem, na comparação com o coletivo, a pessoa já poderia ter chegado de volta do trabalho - o que até tende a ser verdade, dada a velocidade operacional e a prioridade de deslocamento do trem.

À exceção do empresariado do modo rodoviário, ninguém discute a primazia do trem (o trem mesmo, como deveria e poderia ser) em termos de rapidez, conforto, confiabilidade, pontualidade e outros requisitos que, mais do que características, podemos tomar também como qualidades do modo ferroviário. Países inteligentes privilegiam a estrada de ferro como transporte de massa.

Um dia, fomos inteligentes assim e andávamos de trem. Mas a ânsia do progresso rápido, a qualquer custo, faz coisas inacreditáveis. Como destruir uma fabulosa malha dispersa, por exemplo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, condenando pouco a pouco uma multidão de trabalhadores a reféns de um sistema pessimamente estruturado, com linhas e linhas de ônibus e mais ônibus, concorrentes entre si. Tanto em termos de trajetos, desmesuradamente superpostos, quanto de (má) qualidade de serviço.

Tornar ao trem é imprescindível e inadiável. Seja no metrô ou nos trens de subúrbio, uma diferença, na verdade, quase somente retórica, relacionada a filigranas do modus operandi desses dois sistemas. Não é uma questão de escolha, nem um favor que se faz ao usuário. A mobilidade cada vez mais comprometida das grandes cidades exige mudar o paradigma. Obriga a dar a mão à palmatória e admitir o erro que foi abandonar as ferrovias e relegar o trem - condição que se firmou no Rio por décadas - ao estigma de ser o pior dos transportes: ruim, sujo e impontual, para sacrificar pouco. Aí, só mesmo o Poder Público para agir, saindo em socorro da população e restabelecendo ao menos um centésimo do bom senso.

Assim, que tal, em vez de brigar pelo ilustre passageiro, unir forças para oferecer a esse belo tipo faceiro um transporte integrado, decente, com a qualidade que ele merece - e pela qual paga?


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