domingo, 16 de setembro de 2012

Concorrência burra


Que tristeza! Os modais que compõem o transporte de massa da Cidade do Rio de Janeiro se enxergam como concorrentes, e não complementares, como deveria ser. Existisse uma autoridade pública presente, isso não aconteceria.

A expressão dessa disputa é o tom do anúncio da Supervia, operadora ferroviária de passageiros, exposto em mupis (mobiliários urbanos para informação, os painéis de publicidade que existem nas calçadas e pontos de parada) pela cidade, perguntando se você prefere estar sentado no ônibus ou no sofá de casa. A insinuação óbvia é a de que de trem, na comparação com o coletivo, a pessoa já poderia ter chegado de volta do trabalho - o que até tende a ser verdade, dada a velocidade operacional e a prioridade de deslocamento do trem.

À exceção do empresariado do modo rodoviário, ninguém discute a primazia do trem (o trem mesmo, como deveria e poderia ser) em termos de rapidez, conforto, confiabilidade, pontualidade e outros requisitos que, mais do que características, podemos tomar também como qualidades do modo ferroviário. Países inteligentes privilegiam a estrada de ferro como transporte de massa.

Um dia, fomos inteligentes assim e andávamos de trem. Mas a ânsia do progresso rápido, a qualquer custo, faz coisas inacreditáveis. Como destruir uma fabulosa malha dispersa, por exemplo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, condenando pouco a pouco uma multidão de trabalhadores a reféns de um sistema pessimamente estruturado, com linhas e linhas de ônibus e mais ônibus, concorrentes entre si. Tanto em termos de trajetos, desmesuradamente superpostos, quanto de (má) qualidade de serviço.

Tornar ao trem é imprescindível e inadiável. Seja no metrô ou nos trens de subúrbio, uma diferença, na verdade, quase somente retórica, relacionada a filigranas do modus operandi desses dois sistemas. Não é uma questão de escolha, nem um favor que se faz ao usuário. A mobilidade cada vez mais comprometida das grandes cidades exige mudar o paradigma. Obriga a dar a mão à palmatória e admitir o erro que foi abandonar as ferrovias e relegar o trem - condição que se firmou no Rio por décadas - ao estigma de ser o pior dos transportes: ruim, sujo e impontual, para sacrificar pouco. Aí, só mesmo o Poder Público para agir, saindo em socorro da população e restabelecendo ao menos um centésimo do bom senso.

Assim, que tal, em vez de brigar pelo ilustre passageiro, unir forças para oferecer a esse belo tipo faceiro um transporte integrado, decente, com a qualidade que ele merece - e pela qual paga?


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